Com o esgotamento iminente do espaço de endereçamento do protocolo IPv4, o que dificulta a ligação de novos computadores e dispositivos à Internet, e a disseminação do protocolo IPv6, o CCUEC buscou realizar um trabalho conjunto com alguns administradores de rede de outras unidades e órgãos interessados em participar de treinamentos e eventos sobre IPv6. A capacitação dos primeiros funcionários foi realizada no primeiro semestre de 2010, com o objetivo de fomentar o tema dentro da Universidade.
Após essa primeira fase de capacitação, percebeu-se que para iniciar a implantação do protocolo IPv6 na Unicamp seria necessário unir ainda mais os administradores de redes envolvidos até aquele momento em torno desta iniciativa, visto que cada unidade atua de forma independente na Universidade. Dessa forma, em outubro de 2010, foi criado o Grupo de Trabalho IPv6 (GT-IPv6), formado pelos administradores de redes recém-capacitados. Este grupo de trabalho tem por objetivo discutir, planejar e padronizar a adoção do IPv6 em nossas redes, garantindo dessa forma que o novo protocolo atenda as demandas existentes nas diversas unidades da Universidade. O grupo costuma se reunir trimestralmente, e nos encontros são debatidos assuntos técnicos relacionados a implantação do protocolo na Universidade, tais como modelos de endereçamento, técnicas de transição, testes em aplicações, testes em equipamentos de rede e monitoramento do tráfego IPv6. Segundo Rafael Arthur Gazzoni, Analista de Redes do CCUEC e membro do GT-IPv6, o principal objetivo do grupo é promover a implantação do IPv6 na Unicamp, atuando de forma colaborativa e valorizando a experiência de cada um.
Em junho de 2012 o grupo pôde colher os primeiros frutos de todo o trabalho desenvolvido ao longo de quase 2 anos, por meio da participação no World IPv6 Launch 2012, evento coordenado pela Internet Society, e que funcionou como uma ativação do IPv6 para aqueles que participaram do evento. A Unicamp, que participou do evento por meio das iniciativas do GT-IPv6, pôde incluir os três primeiros websites institucionais preparados para suportar o IPv6: CAISM, IFGW e FCA.
A implantação na rede Unicamp do protocolo IPv6 para endereçamento de computadores está sendo feita em fases. A primeira fase teve início em janeiro de 2012, quanto o CCUEC implantou no backbone da rede da Unicamp o conceito de pilha-dupla, permitindo a coexistência e interoperabilidade entre os protocolos IPv4 e IPv6. Em março deste ano, algumas unidades com participantes no Grupo de Trabalho IPv6 (GT-IPv6) já realizavam testes de conectividade com o IPv6, entre suas redes e o backbone.
Algumas soluções adotadas até o momento na implantação do IPv6 na Unicamp são paliativas, visto que nem todos equipamentos utilizados hoje possuem suporte nativo ao novo protocolo. Tanto a conexão com a rede ANSP (responsável por escoar todo o tráfego local com destino a Internet), como a conexão com a Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp (Limeira/SP), somente foram possíveis por meio da utilização de uma técnica de transição onde todo o tráfego IPv6 é encapsulado pelo protocolo IPv4.
De acordo com Gazzoni, é essencial que os novos equipamentos e aplicativos adquiridos pela Universidade já ofereçam suporte completo ao novo protocolo, evitando assim problemas de comunicação futuros. Neste contexto, recentemente o CCUEC participou de uma iniciativa coordenada pelo CEMEQ, que tratou da elaboração de Registro de Preços para switches com suporte ao protocolo IPv6.
Com a implantação na rede da Unicamp, a Universidade poderá aproveitar dos principais benefícios do IPv6:
- Aumento significativo no espaço de endereçamento IP, que passará de 4 bilhões de endereços para 340 undecilhões de endereços (2^128). O espaço de endereçamento do protocolo IPv6 possibilita que cada um dos habitantes da Terra tenha a sua disposição 56 octilhões de endereços;
- Melhorias na estrutura do protocolo, com cabeçalhos mais elaborados;
- Mecanismo de segurança padronizados (IPSEC) e prontos para utilização;
- Configuração automática de endereços, facilitando a administração da rede.
Prazo para implantação
Especialistas na área apontam que quanto mais demorada for a implantação do novo protocolo, maior será o gasto com o todo o processo. Dessa forma, é importante iniciar o planejamento da implantação do IPv6 nas unidades que compõem a Unicamp, buscando depender menos de técnicas de transição.
Por se tratar de um movimento bem complexo, a implantação do IPv6 em toda a Universidade deverá ser tratada a longo prazo. Primeiramente, será necessário realizar a capacitação de todos administradores de rede da Unicamp, além dos demais profissionais de TIC envolvidos com esta implantação. As demais etapas vão depender diretamente desta capacitação e dos resultados obtidos pelo GT-IPv6, que devem nortear as ações que visam a implantação definitiva do IPv6 na Unicamp. No momento estão sendo verificadas opções para a capacitação dos profissionais, que é esperada para ter início em 2013.
A implantação do IPv6 deverá ser acelerada a partir de 2013, pois a Internet está em constante crescimento, e a rede da Unicamp, como parte da grande rede mundial, não pode ficar de fora desta evolução
IPv6: Conceitos e Histórico
A Internet é uma grande rede, de alcance mundial, onde todos os dispositivos conectados a ela tem a capacidade de se comunicar uns com os outros. Para que essa comunicação seja viável são necessários protocolos que estabeleçam as regras entre as partes envolvidas. Dentre os principais protocolos utilizados na Internet podemos citar o IP (Internet Protocol), que tem como uma de suas principais regras a existência de um identificador único (endereço IP), permitindo que cada dispositivo conectado à Internet consiga contato com outros dispositivos. Atualmente a versão mais utilizada deste protocolo é a versão 4, também denominada de IPv4 (Internet Protocol version 4).
Historicamente, é sabido que a Internet não foi projetada prevendo sua atual dimensão. Com o tempo surgiram necessidades de aprimoramentos nos protocolos originais e até mesmo de criação de novos protocolos para apoiar o crescimento da grande rede. No entanto, uma das principais deficiências identificadas diz respeito a quantidade de endereços IP disponíveis no IPv4. Com a adoção comercial da Internet, em meados da década de 90, veio o receio do esgotamento do espaço de endereçamento IP disponível mundialmente, o que estimulou o início do desenvolvimento de uma nova versão do protocolo IP, que atendesse as novas e futuras demandas para uso da Internet. Essa iniciativa culminou na mais nova versão do protocolo, o IPv6.
É importante ressaltar que as estimativas iniciais de esgotamento de endereços somente não se concretizaram por conta da adoção de técnicas paliativas (NAT, CIDR, DHCP, entre outras). No entanto, como efeito colateral, algumas destas técnicas dificultaram o desenvolvimento da rede, reforçando a necessidade de uma solução melhor elaborada.
A Internet não deixará de funcionar com o esgotamento das faixas de endereçamento IPv4, porém seu crescimento estará comprometido. O IPv6 é a solução para muitos dos problemas encontrados no IPv4 e facilitará o contínuo desenvolvimento da Internet.
Não existe uma data definitiva para o fim do protocolo IPv4, sendo que ambos os protocolos deverão conviver de forma harmoniosa por alguns anos, tratando a questão da transição de IPv4 para IPv6 como um objetivo de longo prazo.
Referência
Guia de consulta sobre o projeto IPv6.br — Centro de Estudos e Pesquisas em Tecnologia de Redes e Operações